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A HISTÓRIA DA BARCO (part. 1)


# 1. CRIANÇAS DE 19 ANOS NÃO PODEM BEBER NOS ESTADOS UNIDOS. MAS NA EUROPA SIM.

A história da Barco começa em 2008. Mais especificamente, em Dublin, na Irlanda. Mas até chegar lá, tiveram algumas histórias.

Na época, então com 19 anos de idade, eu morava e estudava nos Estados Unidos e tinha um problema: com 19 anos, é proibido beber nos EUA. Durante o período que morei em Nova York, se quisesse beber, somente com aquele jeitinho. Uma “fake I.D.” aqui, outra alí. Mas não era muito fácil. Beber nos EUA com 19 anos de idade não é fácil, e é ilegal.

No final do curso, antes de voltar ao Brasil, fui com uma turma de amigos, fazer um “mochilão” pela Europa, e ao desembarcar no aeroporto e sentar num restaurante para comer, a primeira coisa que me chamou a atenção foi uma gurizada na mesa do lado, visivelmente jovem, tomando cerveja.

A primeira reação, claro: pedi uma cerveja. E para minha grata surpresa, ninguém me pediu absolutamente nada. Identidade, passaporte, nada.

Alegria, felicidade, uhuuu...vamos beber.

Beber na Europa seria mais fácil.

Foi então que, empolgado com aquela grata surpresa, e com aquela facilidade para beber, depois de passar 6 meses tendo dificuldades, fiz um pacto: vou beber uma cerveja por dia, durante os 41 dias que estarei na Europa.

Dito e feito, promessa cumprida. 41 dias, 41 cervejas. Bem mais na verdade, mas isso é detalhe.

Teve até um dia, na Islândia, que estava pronto para dormir, e me lembrei que não havia bebido e não tinha honrado minha promessa. Não pode. “Meia-noite, tira pijama, coloca uma roupa, vai cumprir tua promessa”. Fui. Bebi. Voltei a dormir orgulhoso.

Porém, foi em Dublin que minha percepção sobre cerveja, mudou.

Na época, meu negócio era quantidade, não qualidade. Conhecia só essas cervejas de massa, que todo mundo bebe. Não sabia que existiam diferentes estilos de cerveja e que existia um mundo por trás de cada produto. Sim, cerveja para mim até então era a tal da Pilsen brasileira.

Mas em Dublin, tudo mudou.

Em um Pub, me sentei no bar, e me deparei com aquela imensidão de torneiras de “chopp”. Não sabia o que pedir. As opções eram muitas. Olhei para o lado, e vi uma parede de uns 5 metros de altura, completamente lotada de garrafas de cerveja. E agora? O que pedir?

Com muita ingenuidade, pedi “o carro chefe” da casa. Aquela que mais sai.

Me trouxeram uma cerveja amarga. Não entendi num primeiro momento. O que era aquela cerveja tão diferente, mas ao mesmo tempo, tão saborosa, que a cada gole parecia ficar melhor?!

Era uma IPA.

Não sabia o que era uma IPA. Mas gostei.

E aí, olhando aquela parede, olhando aqueles produtos, com história, com marca, com sabor, me deu o “estalo”.

Ingenuamente me perguntei:

PORQUE, NO BRASIL, NÃO EXISTE ESSA QUANTIDADE E ESSA QUALIDADE DE CERVEJAS?

PORQUE NO BRASIL SÓ EXISTE UM TIPO DE CERVEJA?

“UM DIA, QUEM SABE, VOU CRIAR UMA CERVEJARIA IGUAL A ESTAS, NO BRASIL”.

Isso foi em 2008, e não sabia que já existia um movimento grande surgindo. Cervejarias e cervejeiros caseiros. O mercado brasileiro estava começando a mudar.

Voltei ao Brasil com esse sonho na mala.

# 2. AMCHAM e o sonho do EMPREENDEDORISMO

Em 2009, comecei a trabalhar na Câmara Americana de Comércio, a AMCHAM. Uma entidade empresarial que reúne as mais diversas empresas, em um ambiente de estudos e debates empresariais com os mais diversos empresários.

Conheci muita gente do meio empresarial. E surgiu uma nova paixão: empreendedorismo.

O mundo dos negócios e as histórias por trás de cada empresa, me fascinavam. Queria ser como aqueles caras. Como eles conseguiram? Quais as suas histórias?

Estava determinado. Queria ser um empresário. E queria ser um cervejeiro.

# 3. UM MODELO INOVADOR: O CROWDSOURCING DE CERVEJA

Depois de muita inspiração, em 2011, me inscrevi num curso de Empreendedorismo da Perestroika, uma escola nada convencional que faz os alunos pensarem, refletirem e questionarem as formas tradicionais de ver o mundo.

Durante os 4 meses de curso, fui conhecendo novas formas de fazer negócio, e fui montando na minha cabeça um modelo de negócios que julgava ser inovador e com grande potencial. Claro, sempre relacionado a cerveja.

Conheci o termo “crowdsourcing”, e descobri um site chamado “Camiseteria”, onde designers enviam seus desenhos para o site, que coloca esses desenhos para avaliação do público geral, e as estampas mais votadas pelo público, são produzidas pela empresa e comercializadas online. E os designers vencedores, recebem uma recompensa pelas suas criações.

Foi aí que deu mais um “estalo”.

Vou criar uma empresa de “crowdsourcing” de cerveja.

Os designers; seriam cervejeiros caseiros.

Os avaliadores; seriam os futuros consumidores.

Os produtores; seria micro-cervejarias já instaladas, com capacidade ociosa.

E o meu negócio faria toda a parte de realização e comercialização dos produtos.

E foi assim que surgiu a ideia da BARCO.

Uma empresa que reuniria todos os “players” em todos os momentos de consumo da cerveja. Desde o cara que cria a fórmula, o cara que produz, o que comercializa, e principalmente o que consome.

Um modelo colaborativo. Que traz o consumidor para dentro do negócio. E é ele que vai decidir qual o produto da empresa que vai para o mercado.

Seria a ordem inversa. Não é a empresa que diz o que você vai beber. É você que diz o que a empresa vai produzir.

Uma forma inovadora, criativa, e com grande potencial para “revolucionar” o mercado.

E, naquela época, a ideia da Barco não era ser uma cervejaria.

Era ser um negócio, no mercado cervejeiro.

Mas para isso, a Barco precisava ser uma MARCA. Uma marca com força, com potencial. Com design, com propósito.

E foi essa ideia que foi apresentada na banca final do curso.

Na frente de 5 potenciais empresários e “investidores”, apresentei a ideia da Barco, que até então era uma empresa de “power point”, e para a minha surpresa, dos diversos projetos apresentados por todos os alunos, a “ideia” da Barco venceu a banca.

Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Com certeza.

Estava tão apaixonado pelo BARCO e pelo que ela seria, que ao ganhar aquela banca, vi que estava no caminho certo. E que realmente, a BARCO poderia se tornar aquela empresa que eu tanto sonhava.

Pedi demissão da Amcham, e comecei a tirar a BARCO do papel.

# 4. A CERVEJARIA CERTA, NO LUGAR CERTO E NA HORA CERTA.

Primeira coisa: fui aprender a fazer cerveja.

Virei um cervejeiro caseiro.

Conheci diversos cervejeiros.

Conheci pessoas importantes do mercado.

E todas, me apoiavam e me indicavam novas pessoas para conversar sobre a Barco.

E assim fui fazendo minha rede de contatos e vendo se realmente, o modelo de negócios da Barco, era aplicável no mercado “de verdade”.

Umas pessoas me diziam que sim, outras que não.

Ouvi alguns nãos.

Ouvi algumas pessoas pessimistas. Que não acreditavam que a cerveja artesanal seria um mercado.

Ouvi muitos empresários do setor, reclamarem. Dizerem que era um mercado complicado. Dominado pelas grandes, e que os impostos eram cruéis.

Até que por indicação do Sr. Werner Emell, da WE Consultoria, liguei para uma cervejaria no sul de Santa Catarina. Era a Saint Bier. E o proprietário, era o Abrahão Paes Filho. Marcamos de nos encontrar pessoalmente.

E em julho de 2011, estava decidido. A Barco seria produzida na Saint Bier.

# 5. O CAMINHO ATÉ A PRIMEIRA BRASSAGEM

De julho de 2011, até o dia 28 de setembro de 2012, é bastante tempo.

Pois é, foi o tempo que “esperei” para realmente ver a Barco em ação.

Mas durante este 1 ano e 2 meses, não fiquei parado. Já estava dedicado full-time a construção da empresa.

Tinha uma grana guardada e contei com ajuda do meu pai.

Meu pai merece um capítulo à parte na história. Mas ele desde sempre me apoiou e acreditou em mim. Desde o momento em que venci a banca na Perestroika, ele me disse: “se é isso que você quer, e você está seguro disso, vai em frente, que eu vou te apoiar”.

E foi esse empurrão que me deu segurança para pular. Sabia que ele estaria pronto para me ajudar.

Pois bem, pedi demissão da Amcham em julho de 2011, e comecei a me dedicar integralmente a Barco.

Mas não foi assim super fácil.

Não tinha experiência nenhuma em montar uma empresa.

Achava que sabia tudo, e muitas vezes, confesso que a ansiedade e impaciência me deixaram nervosos.

Tinha sim, um “medinho” de colocar a Barco na rua.

Tinha aquela falsa ideia de todo empreendedor jovem de primeira viagem, de que o negócio tinha que ser revolucionário.

De que a partir do primeiro momento, da primeira venda, a Barco tinha que ser um fenômeno. Tinha que ser uma revolução.

Tinha medo que pudessem roubar minha ideia.

Tinha medo de que alguém fizesse antes.

Coisas absurdas.

Medos que me fizeram planejar demais.

Tinha que ser perfeito.

Tinha que ser capa da Exame no mês seguinte.

Esse tipo de coisa...

Não me arrependo. Aprendi.

Mas planejei demais.

Fiquei trancado dentro dos “power points” e “exceis”, durante muito tempo.

Demorei para entender que “feito, é melhor do que perfeito”.

Mas entendi.

E foi assim, que em março de 2012, realizamos o primeiro Beermatch da Barco.

Totalmente BETA.

No salão de festas do meu prédio.

Com amigos meus e do Santiago.

Cerca de 50 pessoas. Os primeiros entusiastas da Barco.

O Santiago era um amigo de um amigo, conhecia ele de vista e chegamos a tomar algumas cervejas juntos, anos antes da Barco.

Sabia que ele era cervejeiro caseiro.

E numa dessas, lembrei de ligar para ele e explicar o negócio que estava montando.

Marcamos uma cerveja, conversamos e pronto. Ele de prontidão, se dispôs a fazer três receitas para o primeiro Beermatch.

E foi assim, de uma forma totalmente BETA, que realizamos o primeiro Beermatch.

Um cervejeiro, três receitas dele, 50 amigos nossos, e um salão de festas.

Nada mais nada menos que uma confraternização de amigos.

E das três receitas que o Santiago elaborou, uma Pale Ale, uma IPA e uma Brown Ale, venceu a Pale Ale.

Pronto.

Tínhamos colocado o modelo do negócio em prática, e principalmente: tínhamos uma cerveja.

Agora precisávamos criar um nome para a cerveja.

Criar um rótulo.

Criar uma marca.

E erramos.

Criamos um nome que até hoje, ninguém sabe falar direito: Kings & Queens.

Pode apostar, pergunta para a pessoa do teu lado, ela vai falar diferente da forma como você falaria.

Enfim, percebemos isso muito tempo depois.

Mas voltando: tínhamos uma receita, tínhamos um nome e tínhamos um rótulo.

Agora meu querido: senta lá e espera.

Chegou a vez de aprovar o produto no Ministério da Agricultura. O famoso MAPA.

Esperamos quase três meses.

Sim, três meses de angustia e ansiedade.

Até que em julho de 2012, GOL.

Saiu o MAPA da Kings & Queens.

Comemorei demais. Parecia uma criança pulando sozinho no escritório da Barco.

Poderíamos enfim: PRODUZIR CERVEJA.

No dia 28 de setembro de 2012, foi produzido o primeiro lote de Kings & Queens.

2500 litros.

Felicidade? Emoção? Alegria?

Não.

Pavor!

Como eu vou vender isso tudo agora?

E como eu vou pagar isso tudo agora?

Segue o barco...

# 6. VOCÊ PRECISA DE PELO MENOS 200K PARA ABRIR UM BOTECO NA ESQUINA...

Tinha um professor na faculdade que tinha uma forma muito legal de motivar os alunos a empreender.

Ele dizia que se alguém achasse que era fácil abrir um negócio, estava enganado. E que você precisaria de pelo menos uns 200 mil reais para abrir qualquer budega de esquina.

Ou seja, baita incentivo. Jóinha...

Lembro que essa frase dele ficou marcada na minha memória.

Imagina? Dizer isso para a garotada na faculdade.

Mas enfim, não acreditei na história dele e abri a Barco com 30 mil reais.

Guardei esse dinheiro durante os três anos de Amcham.

Não entendia nada de finanças. Não sabia o que era capital de giro, nem fluxo de caixa.

Só sabia que queria vender.

Tinha 30, custava 20, sobraria 10.

Juro. Esse era meu raciocínio financeiro.

É claro que não deu certo.

Os 30 acabaram em 3 meses.

Paguei o primeiro lote.

Mas não consegui vender no tempo que precisava.

E os 10 que tinha sobrado. Viraram 0.

E aí?

O que fazer?

A vontade de empreender tem que ser muito forte e a crença na sua ideia e na sua empresa tem que ter muito poder para conseguir superar essa situação.

Menos de 3 meses de operação e o dinheiro tinha acabado.

Reza, chora, pede ajuda.

# 6. AS PRIMEIRAS VENDAS

Como falei anteriormente, a vontade de empreender é tanta que você não pensa muito nas consequências. Você quer ver o negócio na rua.

E como já tinha planejado durante muito tempo, agora queria executar.

Aprendi o tal do método BETA, e agora já era.

Vai cavoucando a trincheira. Se der certo, depois a gente fecha.

E foi assim, que comecei a vender aqueles 2500 litros de Kings & Queens.

Meu pai me deu uma MONTANA, para justamente fazer as entregas.

Era o único patrimônio da empresa.

Colocava as caixas de cerveja na caçamba e comecei a bater de bar em bar.

Acredito que conheci praticamente todos os bares de Porto Alegre, na época.

E foi no BierKeller, lendário bar secreto de Porto Alegre, que a Barco fez a sua primeira venda.

Duas caixinhas de Kings & Queens.

Detalhe: pagamento à vista. ;)))

#A CONTINUAR...

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